terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Não há silêncio que não termine de Ingrid Betancourt


A ex-senadora e ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, conta aqui os quase sete anos que passou na selva colombiana como sequestrada das Farc. A autora se desnudou em seus relatos, em um exercício avassalador e necessário de autoconhecimento, ou construiu uma personagem? Não sei!

O que sei é que eu me enfiei até o pescoço na selva colombiana. Afundei com todos os prisioneiros e guerrilheiros na lama, sofri com os mosquitos, com as caminhadas intermináveis, com o calor e com a chuva. Fui seguindo Ingrid de perto, vendo apenas o que ela via, vendo através de seus olhos. 

Quando comecei esta jornada eu ironizei porque estava achando tudo exageradamente e desnecessariamente dramático. As coisas não pareciam tão ruins assim. As Farc eram uma piada: uma molecada brincando de guerra. Há algo de patético, às vezes, em sua violência.

Entretanto, no momento em que os prisioneiros passam a conviver na prisão do Sombra, as coisas ficam exasperantes e mostram como somos estúpidos, mesquinhos, ridículos, seres humanos.

E à medida que o tempo vai passando, os meses, os anos vão se acumulando a selva fica cada vez mais impregnada na gente, o tédio vai tomando conta, se acomodando por todos os poros e a luta contra a desesperança é diária.

Me coloquei em seu lugar diversas vezes. Foi inevitável. O que eu faria? Foi impossível não sentir raiva de sua tolice, imaginando que agiria de forma completamente diferente.

E no final, quando entramos naquele helicóptero, chorei muito, derramei muitas lágrimas e sorri feliz porque seu tormento tinha finalmente chegado ao fim.

Ingrid Betancourt
Ingrid Betancourt nasceu em Bogotá, Colômbia, no ano de 1961 e foi educada na Europa. Foi deputada, senadora e fundou o Partido Oxigênio Verde em 1998. Candidatou-se à presidência em 2001. Foi sequestrada durante a campanha e ficou quase sete anos nas mãos das Farc.